Escala de Coma de Glasgow, Dreno de Kehr, Incisão de Kocher, Cirurgia de Whipple, Pinça de Kelly … Os epônimos fazem parte do dia-a-dia de qualquer médico ou estudante de medicina. Mas, de fato, o que é um epônimo? Derivado do grego epónymus (que quer dizer literamente “sobre o nome”), a palavra é utilizada para descrever um personagem, real ou fictício, que dá nome a um lugar, dinastia, descoberta ou até a um ano corrente.  Na medicina, isso foi extrapolado para doenças, estruturas, manobras, síndromes, instrumentos, etc … Mas nós nunca paramos para pensar: quem foram esses médicos? Como e por que seus nomes deram origem a esses termos tão consagrados!? Terror dos estudantes de medicina, os epônimos não devem ser somente memorizados, como muitos temem: ao pesquisar e entender melhor sobre a origem do termo, ele certamente ficará na nossa memória sem tanto esforço! Foi pensando nisso que decidimos criar essa nova seção no Médico Nerd: a cada texto da seção “Epônimos” nós vamos aprender um pouco mais sobre a descoberta e seu descobridor!

 

O que é a Manobra de Pringle? Compressão da porta hepatis no forame de Winslow para controlar sangramento hepático. A manobra é frequentemente utilizada em cirurgias de trauma e consegue, de maneira efetiva, parar o sangramento hepático caso a origem seja da veia porta ou artéria hepática.

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Como ela foi descoberta? Durante os anos que trabalhou como cirurgião da Glasgow Royal Infirmary, Pringle teve 08 pacientes com trauma hepático. Tendo em vista os conhecimentos e condições de tratamento da época (não havia Tomografia Computadorizada, bisturi elétrico, reposição volêmica, transfusão sanguínea, anestesia segura …) o desfecho dos pacientes não poderia ter sido diferente: 100% de mortalidade – 03 faleceram antes do tratamento cirúrgico; 01 se recusou à cirurgia; dos 04 operados, somente 02 sobreviveram ao procedimento, mas não chegaram a ter alta hospitalar. Apesar do desfecho desfavorável, Pringle teve a oportunidade de estudar todos os casos, seja na mesa cirúrgica ou anatômica de cadáveres, e publicou o relato da sua experiência e aprendizado no Annals of Surgery em 1908.

“Later it occurred to me that if the portal vein had been compressed in the anterior boundary of the foramen of Winslow the hemorrhage might have been so far temporarily arrested as to permit a thorough treatment of the torn vesels.”

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A leitura do artigo é muito interessante para entender como se fazia ciência no passado: uma série de 08 casos com 100% de mortalidade e dados rudimentares num artigo que misturava no mesmo texto revisão de literatura, relato de caso e cirurgia experimental! Nem por isso o texto deixou de ter sua relevância prática e acadêmica!

Quem foi J. Hogarth Pringle? Nascido na Austrália em 1863, ele se formou em medicina na consagrada Universidade de Edinburgh em 1885. Como não havia treinamento formal de residência médica na época, Pringle fez como os demais cirurgiões e estagiou em vários serviços famosos da Europa, como Viena, Berlim e Londres. Ao voltar para Escócia, assumiu o cargo de cirurgião assistente no Glasgow Royal Infirmary, onde permaneceu de 1893 até 1923.

eponimos-1-manobra-de-pringle_03Lá, como também era típico dos cirurgiões da época, operava todos os tipos de procedimentos e não havia especialidades. Mas Pringle se destacou por ter desenvolvido, além da manobra de Pringle, técnicas para tratamento de fraturas ortopédicas e lesões vasculares. Além disso, tinha uma característica além dos seus contemporâneos: documentação detalhada dos seus pacientes, com muito tempo de seguimento e grande riqueza de dados, que permitiram publicações em revistas proeminentes da época. Outro aspecto modernista de Pringle é que ele foi um grande defensor da educação de mulheres na enfermagem e medicina: ajudou uma das pupilas de Florence Nightingale a fundar a primeira escola de treinamento de enfermeiras da Grã-Bretanha e foi Professor Titular de Cirurgia da primeira faculdade de medicina para mulheres do país.

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Escrito por Medico Nerd